28/06/2011

Qualicorp pagará bônus de R$ 46 milhões a fundador

A corretora e administradora de planos de saúde Qualicorp vai gastar R$ 46,5 milhões com um bônus especial a José Seripieri Filho, fundador da empresa, diretor de assuntos estratégicos e presidente do conselho de administração. O valor é mais que o dobro do que foi pago aos diretores mais bem remunerados das companhias abertas em 2010.
O pagamento foi aprovado em assembleia de acionistas e pelo conselho de administração nos últimos dias de maio e é justificado como "gratificação por serviços prestados como diretor". Pelo preço de R$ 1,39 bilhão pago pelo Carlyle para comprar 68,6% da Qualicorp no ano passado, a parte de Seripieri, que vendeu 22%, mas continuou com 31,4% das ações, pode ser calculada em R$ 458 milhões.
Os R$ 46,5 milhões de agora incluem encargos e representam 30% dos R$ 160 milhões que a Qualicorp tinha em caixa e aplicações financeiras no fim de março. O valor representa ainda 13% do que a empresa vai captar na parcela primária da oferta de ações, que teve o preço fechado ontem.
Considerando a verba total de R$ 65 milhões aprovada para remuneração de diretores e conselheiros de administração em 2011, a Qualicorp, que teve receita de R$ 470 milhões no ano passado, tem grandes chances de ficar entre as dez empresas de capital aberto que mais vão gastar com remuneração de administradores no Brasil. Décimo dessa lista em 2010, o Pão de Açúcar gastou R$ 61 milhões com pagamento de executivos e conselheiros e prevê repetir o valor neste ano.
A Qualicorp foi procurada, mas informou que não comentaria o assunto, com o argumento de que está em "período de silêncio" por conta da oferta de ações.
Seripieri Filho não será o único a capitalizar com a oferta da empresa, que administra planos de saúde coletivos de entidades de classe e associações. O presidente-executivo da companhia, Heráclito de Brito Gomes Júnior, está vendendo 714 mil ações na parcela secundária da oferta pública e deve receber um total de R$ 9,28 milhões na operação, tendo em conta o preço de R$ 13 fechado ontem.
As ações foram adquiridas por meio do exercício de uma parte das opções de compra de ações a que o executivo tem direito. Ele comprou os papéis em 29 de maio a R$ 2,80 cada um, ou R$ 2 milhões no total, e agora as venderá por R$ 13 cada um. Gomes Júnior foi para a Qualicorp em março de 2010, quando deixou a presidência da Bradesco Seguros.
Dentro do mesmo plano, o executivo ainda tem direito a 8,6 milhões de opções. Caso as exerça até maio de 2014, o preço de exercício será de R$ 2,80 reajustados pelo IGP-M. Depois desse prazo, o preço cai a R$ 0,001 por ação.
Para os demais executivos da empresa, existe um outro plano de opção de ações, que terá preço de exercício atrelado à cotação dos papéis em bolsa.
Entre as novatas do mercado, Brazil Pharma e Technos também possuem planos de opção de compra de ações com preço de exercício fixo.
Na rede de farmácias, o plano de opções representa 5,3% do capital da companhia e pode ser elevado para 8% do total. Conforme dados que constam das notas explicativas do balanço do primeiro trimestre, foi fixado um preço de exercício de R$ 1,0265, corrigido pelo IPCA, sendo que as ações da empresa foram vendidas a R$ 17,25 na oferta pública. Nessa nota a empresa não informa se o preço vale para todas as ações do plano ou apenas para uma outorga específica.
A fabricante de relógios Technos aprovou seu plano de opção de compra de ações ainda em dezembro de 2008, quando decidiu destinar até 7,1% do seu capital para possível compra por diretores, conselheiros, gerentes e controladores por meio de diversos programas. Os sete lotes de outorga realizados até agora podem ser divididos em dois blocos. O primeiro deles envolveu 3,695 milhões de ações (4,8% da empresa), sendo que 2,985 milhões foram entregues aos executivos entre o fim de 2008 e início de 2009. O restante das ações desse primeiro bloco foi repassado em abril deste ano. Todas foram entregues com preço de exercício de R$ 1,00, com correção pelo IPCA mais 7%. No prospecto preliminar da Technos, o preço sugerido para a ação variava entre R$ 16,50 e R$ 20,50.
No segundo bloco, com o preço a R$ 4,52, três programas (somando 500 mil papéis) foram lançados em 1º de junho, data da última outorga. Ainda há 1,267 milhão de opções a serem oferecidas nos próximos programas.
Brazil Pharma e Technos foram procuradas, mas não falaram por conta do período de silêncio.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) não tem orientações sobre o que é bom ou ruim em termos de práticas para remuneração de executivos. "O importante nesse processo é que haja muita transparência. Aí o acionista pode julgar as condições", diz Adriane de Almeida, coordenadora do centro de pesquisas do IBGC, destacando que é importante haver clareza especialmente sobre planos de opções, que são complexos por natureza.
De acordo com Marcelo Ferrari, diretor de negócios da Mercer, empresa especializada em planos de remuneração de executivos, "não é recomendável" a existência de descontos muito grandes em planos de opção. "Isso pode passar uma imagem negativa para o mercado, de tratamento diferenciado ou privilegiado para os executivos em relação aos demais acionistas", diz.
Ferrari diz que, conceitualmente, isso também não faz muito sentido. O objetivo do plano de opções é atrelar a remuneração à valorização das ações. Se o preço de exercício é o mesmo do mercado, o executivo vai se esforçar para que a ação da empresa aumente de valor no longo prazo, para ganhar mais quando puder exercer as opções. Com o preço simbólico, esse incentivo deixa de existir. "Mesmo que a empresa perca valor, o executivo ganha dinheiro", explica.
Entre as outras empresas que estão na fila para abertura de capital a Perenco, do setor de petróleo, diz no prospecto preliminar que não possui plano de opções, mas que estuda a elaboração de um, que poderá ser aprovado antes do registro de companhia aberta, o que está previsto para os próximos dias.
A Copersucar, do setor sucroalcooleiro, escreveu no documento que não existe plano de remuneração baseado em ações, mas que um programa do tipo será analisado a partir de agosto.
A PetroRecôncavo, de petróleo, informou "não haver plano de remuneração baseado em ações atualmente em vigor ou previsto". Em situação similar está a LG Agro, que declarou não ter um plano de opção de compras de ações aprovado. (Colaboraram Rodrigo Pedroso e Naiara Bertão)

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