31/10/2011

Falhas de segurança na OSX-1

 

 

Autor(es): Mariana Durão

O Globo - 29/10/2011

 

Exigências de peritos podem atrasar produção da 1ª plataforma de Eike

 O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) identificou irregularidades no OSX-1, primeiro navio-plataforma da OSX, braço naval do conglomerado de Eike Batista. Construída em Cingapura, a unidade afretada pela OGX, petroleira do grupo, chegou ao Porto do Rio no dia 6 e tem seu início de produção na Bacia de Campos previsto até dezembro. A plataforma, no entanto, não poderá operar até sanar as falhas de segurança e saúde do trabalho apontadas em inspeção prévia realizada na última quinta-feira por uma equipe de auditores e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).

Entre os problemas listados estão instalações elétricas e andaimes inadequados, equipamentos de proteção individual (EPI) sem certificado, falta de segurança em espaços confinados, falhas no sistema de combate a incêndio e gás e falta de treinamento para operação da caldeira.

Segundo a procuradora do Trabalho Flávia Veiga Bauler, que acompanhou a fiscalização, os ajustes são essenciais para garantir a integridade dos 80 trabalhadores que vão tripular a plataforma. No início de novembro, o MPT convocará uma audiência com representantes da OSX para propor a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A ideia é criar compromissos relativos à segurança permanente do equipamento.

Procurada, a OSX, em nota, informou que o OSX-1 está em fase final de testes no Rio, onde passa por inspeções de diversos órgãos públicos. Segundo a empresa, as exigências do Ministério do Trabalho estão previstas no cronograma que atenderá plenamente as condições legais de segurança e de saúde de sua tripulação.

Primeira de 48 plataformas a serem contratadas pela OGX até 2019, a OSX-1 custou US$610 milhões. Com capacidade de armazenamento de até 900 mil barris e de produção de até 60 mil barris de óleo diários, ela atuará no campo de Waimea, no bloco BM-C-41 da Bacia de Campos, por 20 anos. A carteira de encomendas da OGX à OSX, do mesmo grupo, já supera os US$4,8 bilhões.

 

 

 

 

Ativos do JPMorgan no Brasil crescem 40% em dois meses

Os ativos da subsidiária brasileira do banco americano subiram de R$ 16,2 bilhões em 30 de junho para R$ 22,5 bilhões em 31 de agosto

 

Cerca de 4% dos R$ 22,5 bilhões são empréstimos para empresas brasileiras e a maior parte do restante está investido em títulos públicos

São Paulo - As compras de títulos do Tesouro brasileiro pelo JPMorgan Chase & Co. contribuíram para que os ativos do banco no País subissem 40 por cento num perído de dois meses.

Os ativos da subsidiária brasileira do banco americano subiram de R$ 16,2 bilhões em 30 de junho para R$ 22,5 bilhões em 31 de agosto, disse Claudio Berquo, presidente do banco no Brasil, em uma entrevista em São Paulo. Cerca de 4 por cento dos R$ 22,5 bilhões são empréstimos para empresas brasileiras e a maior parte do restante está investido em títulos públicos, disse o diretor financeiro Cristiano Almeida.

A política do Federal Reserve de manter a sua taxa básica de juros próxima de zero está estimulando investimentos fora dos Estados Unidos, disse Richard Bove, um analista de bancos na Rochdale Securities LLC. Os títulos do governo brasileiro no mercado interno deram um retorno de 14 por cento nos últimos 12 meses, em comparação com 7 por cento de retorno médio do índice do JPMorgan de governos de mercados emergentes em moeda local.

“Nós estamos tendo um ano maravilhoso no Brasil, melhor do que o planejado”, disse Berquo, de 50 anos.

A compra de títulos do Tesouro brasileiro ajudou o banco com sede em Nova York a elevar em 46 por cento os lucros no Brasil nos oito primeiros meses do ano. O lucro da subsidiária no período subiu para R$ 94,5 milhões, mesmo após o aumento de despesas para expandir seus negócios no maior economia da América Latina, afirmou Almeida.

Goldman Sachs

O Goldman Sachs Group Inc. e o Citigroup Inc. também decidiram aumentar os investimentos no Brasil. O Goldman Sachs, baseado em Nova York, disse neste ano que o Brasil era um dos três países, junto com a China e Índia, nos quais o grupo concentrará novas contratações. O Citigroup, também baseado em Nova York, contratou apenas em março mais de 340 funcionários.

“Os bancos americanos têm de ir encontrar crescimento em algum lugar e eles não vão encontrar nos Estados Unidos se a economia continuar a patinar nos níveis atuais”, disse Bove, cuja companhia está baseada em Lutz, na Flórida.

Os empréstimos para as companhias brasileiras representam apenas uma pequena fatia dos ativos do JPMorgan no país, pois o banco só começou agora a oferecer crédito em reais no mercado interno, disse Berquo. Os empréstimos em dólar vão continuar a representar a maior parte dos empréstimos concedidos pelo banco para as empresas brasileiros, e esses ativos, que Berquo não quis quantificar, são contabilizados em Nova York.

300 maiores

A unidade brasileira do JPMorgan tinha uma carteira de empréstimos de R$ 952,9 milhões no dia 11 de setembro, cerca de duas vezes mais do que no final de dezembro de 2009, disse Berquo, acrescentando que a estratégia do banco é ter entre seus clientes as 300 maiores empresas do Brasil que tem faturamento anual acima de R$ 1 bilhões.

“Nós já estamos fazendo negócios com metade dessas empresas, mas ainda temos muito espaço para crescer”, ele disse.

A crise de dívida na Europa vai restringir o volume de crédito disponível em bancos internacionais, disse Berquo. “Vários bancos aqui estabelecidos vão cortar crédito para os bancos ou diretamente para os clientes, e os spreads vão subir” e essa pode ser uma oportunidade para o JPMorgan ganhar mercado, disse ele.

Como parte desse esforço o JPMorgan trouxe cerca de R$ 923 milhões em capital para o Brasil em setembro e pode trazer mais se for necessário, disse Berquo.

O JPMorgan era o vigésimo terceiro maior banco do Brasil em capital em 30 de junho, com R$ 1,7 bilhão em patrimônio líquido, segundo os dados do Banco Central. O Itau Unibanco Holding SA, o maior, tinha patrimônio líquido de R$ 67,2 bilhões.

Grande banco de crédito

“Nós queremos financiar os maiores projetos de óleo e gás, os projetos de infraestrutura, nós queremos ser um grande banco de crédito no Brasil”, disse Berquo, acrescentando que linhas de financiamento ao comércio exterior e pré-pagamentos à exportação são também prioridades para o banco.

“Mas nós também estamos planejando iniciar a nossa participação no mercado local de títulos, como debêntures e notas promissórias, que está aberto neste momento e é mais atrativo do que os mercados internacionais”, ele disse.

O JPMorgan contratou Ricardo Leoni, que estava no Santander, para dirigir a area de renda fixa no Brasil e planeja mais contratações depois do fim da temporada de bônus, em fevereiro, Berquo disse. O JPMorgan mais do que dobrou o total de funcionários no Brasil, de 339 pessoas para 750, desde que o brasileiro Berquo voltou de New York para dirigir a subsidiária brasileira no final de 2009.

O banco também está construindo uma área de gestão de recursos de terceiros para atender a grandes corporações e investidores institucionais e tem 40 pessoas dedicadas ao negócio até agora.

Aquisição

No ano passado, o JPMorgan comprou o Gávea Investimentos Ltda., a empresa de gestão de recursos fundada pelo ex- presidente do Banco Central Armínio Fraga, por um valor não revelado. O banco tem um braço de private equity chamado One Equity Partners que investe o capital próprio do JPMorgan, dirigido por Veronica Serra, filha do candidato a presidência da República em 2010 José Serra, que perdeu a eleição para a Presidente Dilma Rousseff.

“Nós vamos continuar crescendo no negócio de gestão de recursos de terceiro, em private e corporate banking”, disse Berquo, acrescentando que o plano é de atingir 1.000 empregados no final de 2014.

 

 

 

O silêncio dos banqueiros

 

Após três semanas de protestos nas capitais do mundo contra o sistema financeiro, bancos internacionais aceitam tomar um calote de E 100 bilhões da Grécia. Coincidência?

Por Denize BACCOCINA

Na madrugada da quinta-feira 27, enquanto manifestantes protestavam contra a ganância dos banqueiros e de Wall Street e acampavam em centros de cidades como Nova York, Oakland, Chicago e Londres, presidentes e primeiros-ministros da zona do euro se congratularam mutuamente, depois de dez horas de reunião para decidir o futuro da dívida grega. Eles se comprometeram a capitalizar e adotar regras mais rigorosas para o sistema financeiro e jogaram para os bancos privados parte da fatura da crise que paralisa o Velho Mundo: credores de boa parte da dívida grega, os bancos serão obrigados a aceitar um calote de E 100 bilhões (R$ 240 bilhões) ou metade do que deveriam receber.  As vozes das ruas foram ouvidas? Pode ser. O resultado, sem dúvida, foi influenciado pelo desorganizado e barulhento movimento global contra o socorro dos governos ao sistema financeiro desde 2008, num momento em que a população dos países em crise paga o alto preço do desemprego e do desalento. Os bancos, afinal, tiveram de dar sua cota de sacrifício nesta segunda etapa da crise. "Os credores privados farão um esforço voluntário de 50%", anunciou, animado, o presidente francês Nicolas Sarkozy ao fim da reunião em Bruxelas.

 

"Não chamamos os bancos para negociar, mas para informar nossa posição." A alternativa para os banqueiros seria o calote de 100%, acrescentou o presidente francês. "É uma nova era que se abre para a Grécia", afirmou o primeiro-ministro, Georges Papandreou, que sinalizou com a estatização temporária de bancos gregos. Com a medida, a dívida grega, estimada em € 350 bilhões, cai para € 250 bilhões e deve diminuir dos atuais 165,6% em relação ao PIB para 120% em 2020. "Ficamos à altura das expectativas e fizemos o que era preciso pelo euro",

 

 

E se não vier a tempestade?

Celso Ming

Contra todos os prognósticos da meteorologia, o capitão Vasco Moscoso de Aragão ordenou que seu navio, fundeado no Porto de Belém, fosse fortemente amarrado para que estivesse preparado para enfrentar violenta tempestade. O que parecia improvável de fato aconteceu. Mas, porque foi bem preso, o navio do capitão-de-longo-curso foi dos poucos que se salvaram. É a história deliciosa que conta Jorge Amado em Velhos Marinheiros.

O Banco Central do presidente Alexandre Tombini opera diferentemente do capitão Vasco Moscoso de Aragão. Conta, sim, com um furacão global que deixará o Brasil mais ou menos ileso e avisa que ajusta a política monetária (política de juros) de acordo com essa percepção.


 

Agora se sabe que, ao contrário da aposta feita pelo Banco Central, a borrasca ficou bem menos provável. Apesar disso, a inflação pode recuar, por motivos diferentes dos que estão nos arrazoados do Banco Central, repetidos quinta-feira na última Ata do Copom.

Desde agosto, a política monetária do Banco Central está baseada em dois pressupostos que provavelmente não se concretizarão. O primeiro deles é a já mencionada catástrofe econômica global. O efeito esperado seria forte baixa das cotações das commodities, especialmente dos alimentos, que, por sua vez, deveria produzir desinflação global e, assim, retirar pressão sobre a inflação interna.

O acordo obtido nesta semana para circunscrever a crise europeia e os esquemas acertados para evitar uma quebra em cadeia dos bancos sugerem que ficou mais difícil que o pior aconteça. A tendência agora é que os preços das commodities voltem a subir. O segundo pressuposto é a desaceleração do sistema produtivo interno (o crescimento do PIB do Brasil deste ano não deverá ser superior a 3,5%), que se encarregaria de baixar o consumo e de esvaziar a inflação.

Pelo menos três fatores trabalham contra esse prognóstico. Apesar da retórica oficial, que prefere dar ênfase a uma suposta “moderação” na criação de empregos, o mercado de trabalho continua aquecido e deve contribuir para um importante aumento da massa de renda a partir de janeiro, quando o salário mínimo for reajustado em algo em torno de 14%. O avanço do estoque de crédito, que deveria recuar para a faixa dos 15%, na verdade está retomando a aceleração e, em setembro, crescia a 19,6% em 12 meses. E, embora a indústria trabalhe em marcha bem mais lenta, o setor de serviços se expande a quase 10% ao ano.

Tudo isso não significa necessariamente que a convergência da inflação para a meta de 4,5% em 2012 não ocorra num ambiente de afrouxamento monetário (queda dos juros). Somente torna a realização do prognóstico bem mais difícil.

O que pode dar razão ao capitão-de-longo-curso Alexandre Tombini é uma terceira variável que viria a ser reforçada – não por ele, mas pelo governo. Trata-se do aprofundamento do ajuste fiscal. A presidente Dilma Rousseff parece mais comprometida a “abrir espaço para a baixa dos juros”, por meio da redução das despesas públicas.

Seria projeto de execução mais complicado num ano eleitoral como o de 2012, mas, se não se cumprirem as expectativas catastrofistas com que vem trabalhando o Banco Central, esse objetivo bem que poderia ser levado a termo, para permitir que os juros básicos fossem derrubados a 9% sem grande impacto na inflação.

 

 

 

Vivo e Oi terão menos perdas com novas regras de tarifas

 

 

Autor(es): KARLA MENDES / BRASÍLIA

O Estado de S. Paulo - 29/10/2011

 

 Por já contarem com operação de telefonia fixa, empresas sentirão impacto menor com queda na tarifa de interconexão

 - O Estado de S.Paulo

A integração da Telefônica com a Vivo vai ajudar a operadora de telefonia móvel a reduzir a perda de receita provocada pelas novas regras da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que forçarão as empresas a cortarem a tarifa de interconexão cobrada nas ligações de telefones fixos para celulares em 27% até 2014 - esse corte deve resultar em tarifas até 21% menores nesse período.

 

No ano passado, a Vivo foi a operadora que mais ganhou dinheiro com a tarifa - R$ 6,1 bilhões. Sem a integração, o impacto da queda nas receitas da companhia seria muito significativo, avaliou João Moura, presidente executivo da Associação Brasileiras das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp).

"A Vivo recebe muitas ligações, mas muito do que ela recebe é da Telefônica. A partir deste ano, com as duas empresas operando em conjunto, esse número vai reduzir muito no balanço consolidado", afirmou Moura.

Procurada, a Telefônica informou, por meio de nota, que "aguardará a publicação dos documentos oficiais com a decisão da Anatel sobre as novas regras a serem adotadas para os valores de VC (ligações fixo-móvel) para avaliar os eventuais impactos de sua aplicação".

A TIM, por outro lado, contabilizou R$ 3,68 bilhões de tarifas de interconexão em 2010 e não tem um braço fixo para compensar essa perda de receita. A Oi, por ter uma estrutura consolidada das operações fixas e móveis há algum tempo, é a que obteve a menor receita com a tarifa em 2010: R$ 2,57 bilhões.

A Claro não detalha esse tipo de informação em seu balanço. Em 2010, a operadora divulgou que o valor das receitas obtidas com a tarifação de uso de meios foi de R$ 3,72 bilhões. Analistas garantem que a maior parte refere-se às tarifas de conexão para telefones móveis.

Oscar Petersen, diretor jurídico e regulatório da Claro e da Embratel, reconhece que todas as operadoras serão impactadas pela queda na tarifa, mas considera que a redução de preços é algo inevitável, que está ocorrendo no mundo todo. "O impacto para as quatro operadoras móveis é um impacto importante, realmente, mas entendo que a redução gradual da forma proposta, em três anos, permitirá que as empresas façam adequação de sua ofertas", disse.

"Pela análise dos dados, percebe-se que TIM e Claro serão as mais impactadas pela queda na VU-M. No futuro, com a consolidação das operações de Claro, Embratel e Net, esse efeito será minimizado, mas ainda está longe do que representa uma Oi e uma Telefônica", comparou o dirigente da Telcomp, que fez a compilação dos dados divulgados nos balanços das operadoras em 2010, a pedido do Estado.

Impacto. Mario Girasole, diretor de regulamentação da TIM, admitiu que as medidas da Anatel têm impacto maior nas empresas que não têm operações fixas integradas. "É uma medida assimétrica, pois as empresas que têm serviços integrados fixo/móvel podem compensar com outros serviços, como a cobrança da assinatura básica por exemplo", ressaltou o executivo. "É uma medida assimétrica ao contrário, pois dá poder como nunca às empresa com poder significativo de mercado", reforçou.

Até as medidas entrarem em vigor em fevereiro do próximo ano, Girasole está confiante de que a Anatel aprovará o regulamento com condições mais favoráveis de compra de capacidade de rede no atacado, o chamado EILD, o que minimizará as perdas. "O melhor teria sido a aprovação dos dois regulamentos de forma conjunta, mas ainda temos tempo para deixar a situação mais equilibrada."

Contestação. Apesar de a Oi ser a empresa que teria o menor impacto nas receitas com a redução das tarifas de interconexão, a empresa ingressou com um pedido na Anatel solicitando o reajuste das tarifas de ligação fixo/móvel e a postergação da vigência da redução das tarifas de interconexão em um ano.

Uma fonte da empresa informou que a determinação da Anatel fere os contratos de concessão assinados com as operadoras de telefonia fixa, que preveem reajuste de tarifas a cada 12 meses. Procurada, a Oi não se manifestou.

 

 

 

 

País importa inflação vinda da China

A ameaça principal está nos preços de bens não duráveis, como calçados, vestuário, utensílios e enfeites, que cresceram 9,25% em 12 meses

 

Iuri Dantas

BRASÍLIA - A inflação no Brasil vem desacelerando em direção à meta de 4,5%, em linha com o cenário elaborado pelo Banco Central. Mas isso não significa preços mais baixos. A assistente administrativa Eneide Chaves Custódio, 49, por exemplo, vem percebendo que roupas e brinquedos importados da China estão mais caros na prateleira. A consumidora confirma a pressão sobre os preços que vêm da Ásia: o Brasil está importando parte da inflação chinesa.

"Com a presidente não está tão ruim, mas não é mais tão bom quanto era com o Lula", diz Eneide. "Antes a gente sentia mais segurança", afirma. "E essa coisa do Banco Central depende mais da política do governo", acrescenta, ao ser indagada sobre o comportamento da inflação e a atuação do Banco Central. "Os brinquedos estão bem mais caros do que em qualquer época e as roupas estão custando mais também."

O comportamento da economia chinesa provoca um impacto direto e outro indireto nos preços do País, conforme explica o ex-secretário de Política Econômica Julio Gomes de Almeida.

De um lado, o apetite do gigante asiático por matérias primas - as commodities - pressiona cotação de produtos como cobre e trigo. Esses itens, que o Brasil precisa importar, acabam chegando mais caro ao País.

Por outro, houve elevação de custos de produção na China, por conta de salários mais altos. E isso resulta em manufaturados mais caros.

"Bens intermediários e de consumo já estão um pouco mais inflados pela inflação chinesa", afirma Almeida, que atualmente preside o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). "A China deixou de fazer exportações ‘desinflacionárias’, como nos anos 1990 e 2000. E agora exporta inflação. Isso vai continuar assim: o conteúdo inflacionário veio pra ficar", afirma.

Pressão

O principal fator de pressão sobre a inflação brasileira não é mais o preço de serviços, segundo dados compilados pelo Banco Central. O valor cobrado por serviços, tais como manutenção de automóveis e cabeleireiros, subiram 9,03% nos 12 meses encerrados em setembro. Agora, a ameaça principal está nos preços de bens não duráveis, como calçados, vestuário, utensílios e enfeites, que cresceram 9,25% no mesmo período.

Estes itens, somados a bens semiduráveis - como artigos de limpeza e produtos farmacêuticos - representam 38% do índice oficial de inflação do País, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As duas categorias também são as que mais reagem aos preços chineses, colocando em risco uma possível queda do custo de vida brasileiro.

As importações de calçados da China, por exemplo, cresceram 19% nos primeiros nove meses de 2011, em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o preço médio da unidade subiu de US$ 4,93 para US$ 6,28, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Nas contas do IBGE, o preço de calçados teve um incremento de 8,74% nos últimos 12 meses encerrados em setembro.

O preço médio do brinquedo chinês também subiu, como notou Eneide. O valor passou de US$ 1,21 para US$ 1,46 no mesmo intervalo.

Parte desse aumento teve a ver com o governo nacional, que em dezembro aumentou de 20% para 35% a tarifa de importação, afim de proteger o fabricante nacional. Mesmo assim, as importações cresceram 38%.

Sabão e material de limpeza, cujas compras feitas pelo Brasil da China subiram 61%, também estão custando mais. Foram importados a US$ 2,05 por quilo de janeiro a setembro do ano passado. Este ano, no mesmo período, o preço passou para US$ 2,37.

Transmissão

"O salário na China está subindo e os custos estão aumentando", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "As empresas chinesas têm que repassar esses custos maiores, é possível que estejamos trazendo um pouco de inflação de lá para cá", avalia ele.

"Mas quando conversamos com algumas empresas, vemos que houve aumento. Mesmo assim, o preço chinês ainda continua muito mais vantajoso em relação ao nacional", acrescenta.

Outro canal de transmissão da inflação da China para o Brasil são os insumos utilizados pela indústria nacional. O empresário nacional, segundo Castro, é quem vai decidir se repassa ou não esses custos maiores para o consumidor.

Pelo sim, pelo não, a arquiteta Ciane Gualberto Feitosa Soares, 56, evita produtos "made in China". "Uma vez fui comprar cobertor e me ofereceram um da China", diz ela. "Li no jornal que a China também está na crise e que isso vai afetar o Brasil. Então, comprei um nacional, um pouco mais caro, para ajudar."

 

 

 

Atuação do BC sinaliza que piso para moeda está abaixo de R$ 1,70

 

Autor(es): Fernando Travaglini | De São Paulo

Valor Econômico - 31/10/2011

 

 

A puxada do dólar nos últimos dois dias da semana passada, com a cotação da moeda americana perdendo mais de 4% em relação ao real, trouxe o Banco Central (BC) de volta ao mercado. Mas a atuação da autoridade monetária esteve longe de significar uma intervenção para conter a queda da moeda. Ao contrário, o mercado entendeu que o piso para o dólar está bem abaixo do patamar atual, de R$ 1,68.

"O BC só deve entrar comprando câmbio (no mercado à vista) se a cotação cair abaixo de R$ 1,60", acredita André Hübner, diretor de Global Markets do HSBC. Segundo ele, a preocupação da autoridade parece ser mais com a liquidez do que com a cotação da moeda americana.

A autoridade monetária fez uma consulta aos bancos na quinta-feira se haveria interesse em rolar os contratos de swap que mantinha em aberto na BM&F, em um movimento inesperado pelos investidores.

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Causou surpresa também a taxa na data da consulta, na casa de R$ 1,70. O BC só oferece swaps tradicionais - equivalentes a uma venda de dólar no mercado futuro - em momentos de alta acentuada do dólar, como ocorreu no auge do aperto de liquidez de setembro, quando a cotação chegou a bater em R$ 1,96.

Mais do que a operação em si, que mexeu pouco com o mercado, os investidores buscaram na ação do BC sinais de como a autoridade vê o atual nível do dólar. E a percepção é de que a o BC não se mostra incomodado com a cotação corrente.

O BC detinha uma posição líquida vendida de US$ 1,3 bilhão, em contratos de swap na BM&F - composta por operações tanto tradicionais quanto reversas. Como o BC rolou apenas parte da oferta de swaps tradicionais, a posição líquida vendida foi reduzida. O resultado, portanto, foi equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro, justamente o que os agentes demandavam.

Essa foi a senha para uma queda acentuada da moeda americana ao longo do dia, fechando abaixo da casa de R$ 1,7 pela primeira vez desde o começo de setembro, com uma desvalorização de 1,46% na sexta-feira.

"O BC passou a informação para o mercado que se alguém está pensado que existe um piso em R$ 1,70 está enganado", disse um operador de câmbio. Mas essa mesma fonte pondera que a rolagem pode ter sido apenas um movimento técnico do BC. "O mercado sempre tenta encontrar um sinal, mas pode ter sido uma simples rolagem", afirma. O fato é, continua, que o mercado ficou mais "tranquilo" após o leilão, e a moeda continuou caindo.

A semana foi movimentada. A expectativa ficou em torno do anúncio de uma solução para a crise na Europa. Divulgado o acordo para perdão de parte da dívida grega e de recapitalização dos bancos da região, o mercado foi tomado pela euforia.

A valorização do real, no entanto, foi mais intensa do que outras divisas internacionais, mesmo comparado aquelas que têm forte relação com as commodities. A explicação colhida nas mesas de câmbio é o efeito da disfuncionalidade do mercado brasileiro pós-IOF. O real estaria "atrasado", segundo expressão usada por um dos operadores de câmbio.

Mas o fluxo de divisas para o país, de fato, foi mais expressivo, contribuindo para uma apreciação acentuada da moeda brasileira. A movimentação de alguns bancos foi intensa para liquidar a entrada de moeda estrangeira. O resultado é que o estoque de dólares na mão das instituições financeiras deve ter superado o patamar de US$ 5 bilhões - já que o Banco Central não realiza leilões de compra no mercado à vista desde meados de setembro.

O cenário do BC, segundo ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na quinta-feira, é de certa "estabilidade" para a taxa de câmbio. Mas a autoridade, como sempre faz questão de deixar claro nas suas comunicações, não trabalha com meta de câmbio e suas intervenções servem apenas para atenuar os movimentos de mercado e acumular reservas.

 

 

 

 

Mercado reduz mais uma vez projeção para PIB brasileiro

 

Brasil Econômico   (redacao@brasileconomico.com.br)

 

 

Instituições financeiras consultadas pelo BC reduziram as projeções para o crescimento da economia brasileira em 2011 e 2012.

Os agentes de mercado consultados mantiveram a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011, a 6,50%, conforme o relatório Focus divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (31/10). 

Para o próximo ano, as instituições cortaram a estimativa do IPCA para 5,59%, frente a 5,60% na semana anterior.

Quanto ao Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), a previsão para 2011 recuou para 5,86%, contra 5,87% previstos anteriormente. Para 2012, a previsão passou de 5,19% para 5,22%.

Já a projeções para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) em 2011 foi reduzida de 5,82% para 5,80%. A estimativa para o próximo ano foi elevada a 5,39%, face a 5,29% há uma semana.

PIB

As instituições consultadas pelo BC cortaram a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 para 3,29%, ante 3,30% estimado na semana anterior.

Trata-se do quarto corte consecutivo nas estimativas. Há quatro semanas, a previsão era de um crescimento de 3,51%.

Para 2012, a estimativa também foi rebaixada, de 3,51% para 3,50%.

Câmbio

De acordo com o boletim Focus, a projeção para a taxa de câmbio foi mantida em R$ 1,75 ao fim deste ano. Há quatro semanas, contudo, as estimativas eram de R$ 1,73.

Para 2012, a projeção é de que o dólar termine o ano também em R$ 1,75.

Selic

Pela sétima semana seguida, o mercado manteve a previsão para a taxa básica de juros do país (Selic) em 11% ao final deste ano.

Para 2012, os economistas consultados preveem que a Selic fique em 10,50% ao ano.

 

 

 

Trichet: Governos europeus deveriam ter dado atenção a alertas do BCE

Por Juliana Cardoso | Valor, com agências internacionais

SÃO PAULO - Os problemas que a Europa enfrenta atualmente poderiam ser evitados se os governos tivessem ouvido aos vários alertas do Banco Central Europeu (BCE) sobre dívidas, disse o presidente da autoridade monetária, Jean-Claude Trichet, que será substituído no cargo a partir de amanhã por Mario Draghi.

Em declarações dadas à rede CNBC, Trichet acredita que agora é tempo de ação, depois do acordo fechado na semana passada pelos líderes europeus para recapitalizar os bancos europeus e para reduzir a dívida grega, entre outros pontos.

Ontem, em entrevista ao alemão Bild, ele disse que o encontro da União Europeia definiu uma série de respostas ambiciosas, mas a crise ainda não acabou. "As decisões alcançadas no encontro precisam ser implementadas com grande precisão e velocidade", sustentou.

Sobre seus planos pós-BCE, Trichet disse que está deixando o posto para um sucessor muito bem preparado e que pretende agora, ao fim de seu mandato de oito anos, ler mais e estudar história europeia.

(Juliana Cardoso | Valor, com agências internacionais)

 

 

 

Petrobras paga R$ 2,6 milhões em juros sobre o capital próprio

Brasil Econômico   (redacao@brasileconomico.com.br)

 

O montante deverá ser desembolsado até 31 de dezembro de 2011

 

O Conselho de Administração da Petrobras aprovou a terceira parcela de distribuição antecipada de remuneração aos acionistas, sob a forma de juros sobre o capital próprio.

O valor a ser distribuído é de R$ 2,609 milhões, correspondente a R$ 0,20 por ação ordinária ou preferencial.

Segundo a empresa, o montante deverá ser desembolsado até 31 de dezembro de 2011, com base na posição acionária de 11 de novembro de 2011.

A partir do primeiro dia útil após a data de corte, as ações passarão a ser negociadas ex-juros sobre capital próprio na BM&FBovespa e demais bolsas de valores onde a companhia está listada.

"Esses juros sobre o capital próprio deverão ser descontados da remuneração que vier a ser distribuída no encerramento do exercício de 2011. O valor será atualizado monetariamente, de acordo com a variação da taxa Selic, desde a data do efetivo pagamento até o final do referido exercício", explicou a estatal. 

 

 

Atuação do BC sinaliza que piso para moeda está abaixo de R$ 1,70

 

Autor(es): Fernando Travaglini | De São Paulo

Valor Econômico - 31/10/2011

 

 

A puxada do dólar nos últimos dois dias da semana passada, com a cotação da moeda americana perdendo mais de 4% em relação ao real, trouxe o Banco Central (BC) de volta ao mercado. Mas a atuação da autoridade monetária esteve longe de significar uma intervenção para conter a queda da moeda. Ao contrário, o mercado entendeu que o piso para o dólar está bem abaixo do patamar atual, de R$ 1,68.

"O BC só deve entrar comprando câmbio (no mercado à vista) se a cotação cair abaixo de R$ 1,60", acredita André Hübner, diretor de Global Markets do HSBC. Segundo ele, a preocupação da autoridade parece ser mais com a liquidez do que com a cotação da moeda americana.

A autoridade monetária fez uma consulta aos bancos na quinta-feira se haveria interesse em rolar os contratos de swap que mantinha em aberto na BM&F, em um movimento inesperado pelos investidores.

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Causou surpresa também a taxa na data da consulta, na casa de R$ 1,70. O BC só oferece swaps tradicionais - equivalentes a uma venda de dólar no mercado futuro - em momentos de alta acentuada do dólar, como ocorreu no auge do aperto de liquidez de setembro, quando a cotação chegou a bater em R$ 1,96.

Mais do que a operação em si, que mexeu pouco com o mercado, os investidores buscaram na ação do BC sinais de como a autoridade vê o atual nível do dólar. E a percepção é de que a o BC não se mostra incomodado com a cotação corrente.

O BC detinha uma posição líquida vendida de US$ 1,3 bilhão, em contratos de swap na BM&F - composta por operações tanto tradicionais quanto reversas. Como o BC rolou apenas parte da oferta de swaps tradicionais, a posição líquida vendida foi reduzida. O resultado, portanto, foi equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro, justamente o que os agentes demandavam.

Essa foi a senha para uma queda acentuada da moeda americana ao longo do dia, fechando abaixo da casa de R$ 1,7 pela primeira vez desde o começo de setembro, com uma desvalorização de 1,46% na sexta-feira.

"O BC passou a informação para o mercado que se alguém está pensado que existe um piso em R$ 1,70 está enganado", disse um operador de câmbio. Mas essa mesma fonte pondera que a rolagem pode ter sido apenas um movimento técnico do BC. "O mercado sempre tenta encontrar um sinal, mas pode ter sido uma simples rolagem", afirma. O fato é, continua, que o mercado ficou mais "tranquilo" após o leilão, e a moeda continuou caindo.

A semana foi movimentada. A expectativa ficou em torno do anúncio de uma solução para a crise na Europa. Divulgado o acordo para perdão de parte da dívida grega e de recapitalização dos bancos da região, o mercado foi tomado pela euforia.

A valorização do real, no entanto, foi mais intensa do que outras divisas internacionais, mesmo comparado aquelas que têm forte relação com as commodities. A explicação colhida nas mesas de câmbio é o efeito da disfuncionalidade do mercado brasileiro pós-IOF. O real estaria "atrasado", segundo expressão usada por um dos operadores de câmbio.

Mas o fluxo de divisas para o país, de fato, foi mais expressivo, contribuindo para uma apreciação acentuada da moeda brasileira. A movimentação de alguns bancos foi intensa para liquidar a entrada de moeda estrangeira. O resultado é que o estoque de dólares na mão das instituições financeiras deve ter superado o patamar de US$ 5 bilhões - já que o Banco Central não realiza leilões de compra no mercado à vista desde meados de setembro.

O cenário do BC, segundo ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na quinta-feira, é de certa "estabilidade" para a taxa de câmbio. Mas a autoridade, como sempre faz questão de deixar claro nas suas comunicações, não trabalha com meta de câmbio e suas intervenções servem apenas para atenuar os movimentos de mercado e acumular reservas.

 

 

 

 

As renegadas podem brilhar no fim do ano

 

 

Autor(es): Daniele Camba

Valor Econômico - 31/10/2011

 

O mercado dos últimos dois dias da semana passada mais parece uma repetição do comportamento da bolsa no ano, só que de cabeça para baixo. Entre as ações que mais subiram desde quinta-feira, após o anúncio do novo pacote de salvamento dos países europeus, boa parte delas está entre as maiores quedas do ano. Alguns analistas acreditam que várias dessas ações, que foram renegadas durante quase 2011 inteiro, devem brilhar no possível rali de fim de ano, que tem grandes chances de ocorrer.

Para se ter ideia da interseção entre as duas listas (a das altas recentes e a de queda do ano), entre as 20 ações que mais subiram só na quinta-feira - dia em que o Índice Bovespa teve alta de 3,72%, refletindo o anúncio das medidas europeias -, nada menos do que 14 delas (70%) estão também no rol das 20 maiores quedas do ano.

A lista das ações que mais caem no ano está de ponta cabeça

A primeira conclusão que se tira disso é puramente matemática: as ações que caíram muito nos últimos meses possuem um bom espaço para valorizações. Portanto, devem ser as primeiras a se beneficiar num novo processo de recuperação dos mercados. "Mesmo sem sequer olhar um fundamento, os investidores sabem que o que está muito depreciado pode tirar a barriga da miséria na hora da virada", lembra um gestor de recursos.

Observando os dois ranking, conclui-se também que a maior parte das ações que caiu no ano e que agora se recupera é do setor de commodities. Existem alguns bons exemplos. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da MMX Mineração subiram 11% só na quinta-feira - a maior alta do Ibovespa no dia -, enquanto no ano registram queda de 29,3%.

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O mesmo ocorre com a Siderúrgica Nacional (CSN) e Gerdau. As ONs da CSN se valorizaram 7,89% no dia do pacote europeu, mas acumulam baixa de 35,13% em 2011. Já as preferenciais (PN, sem direito a voto) da Gerdau subiram 7,62% no dia D para a Europa. Em contrapartida, caem 31,21% no ano.

Alguns analistas acreditam que os fundamentos dos setores de commodities devem melhorar, juntamente com o cenário internacional - reflexo direto do novo pacote de socorro europeu.

O sócio da Cultinvest Asset Management Walter Mendes é um dos que apostam nessa recuperação dos papéis de commodities. Além do alívio na Europa, Mendes lembra que a temida possibilidade de uma desaceleração abrupta da economia chinesa (o chamado "hard landing") se mostra cada vez menos provável. "Com a China crescendo apenas um pouco menos e não muito menos, a demanda por commodities, especialmente por minério, deve continuar aquecida", completa ele.

 

 

 

 

Orçamento dos EUA é nova fonte de incerteza

 

 

Por dentro do mercado

Autor(es): Eduardo Campos

Valor Econômico - 31/10/2011

 

 

Com outubro ficando para trás e a crise na Europa controlada, ao menos por ora, o foco dos investidores pode se voltar para os Estados Unidos. Não só em função de dados econômicos ou possíveis ações do Federal Reserve (Fed, banco central americano), mas sim em razão da não resolvida questão do Orçamento.

Todo o choro e ranger de dentes do fim de julho, quando o mundo assistiu pasmo à briga entre Democratas e Republicanos sobre o teto do endividamento federal, pode voltar à pauta agora em setembro.

Os deputados americanos têm até o dia 23 de novembro para fechar um acordo sobre o tamanho de um programa para reduzir despesas, medida acertada após o acordo de 30 de julho, que deu um fôlego temporário ao governo dos EUA.

Sem acordo, toda a conversa sobre calote do governo federal americano e novos rebaixamentos de nota soberana voltam a assombrar os investidores.

No câmbio, país saiu da Namíbia e está de volta à Suíça

Mesmo com o acerto de última hora de julho, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s tirou a nota "AAA" da dívida americana, a maior da escala, na noite do dia 5 de agosto, uma sexta-feira. Só para refrescar a memória, o pregão da segunda-feira, dia 8 de agosto, teve Bovespa mergulhando 8% e S&P 500 caindo 6,6%.

Recentemente, o Bank of America Merrill Lynch alertou sobre a possibilidade de novos rebaixamentos na nota dos EUA em função da falta de um acordo crível para se lidar com o endividamento americano no longo prazo.

Ainda nos Estados Unidos, o PIB do terceiro trimestre foi uma agradável surpresa. E na semana que começa os investidores recebem uma indicação sobre o comportamento do mercado de trabalho, que ainda está devendo milhões de vagas.

Na Europa, o dito "perdão voluntário" de 50% da dívida grega, o anunciado aumento do fundo de estabilidade e as tratativas para se capitalizar bancos tiraram o euro da beira do abismo. Mas a região ainda não está em terreno seguro.

A principal crítica a tudo que foi feito por lá é que as medidas não estimulam crescimento econômico. De fato, as contrapartidas no lado real são austeridade, corte de gastos, sacrifício. O ponto é que, enquanto as economias não voltarem a crescer, continuarão incapazes de pagar suas dívidas. Então, a chance de novos problemas é latente, com financiamentos novos pagando apenas o serviço da dívida velha. Algo que nunca acaba bem. Isso sem entrar no lado social da questão. As revoltas e o descontentamento popular não tendem a melhorar com o salvamento do lado financeiro europeu.

No front local, o mercado de câmbio chama atenção. Como bem resumiu o diretor de uma corretora, saímos da Namíbia e estamos de volta à Suíça. O ambiente africano foi verificado em setembro, quando o dólar subiu mais de 18%, fazendo máximas a R$ 1,895. O ambiente suíço se forma neste fim de outubro. Até sexta-feira, o dólar comercial acumulava queda de 10,5% no mês, maior perda mensal desde abril de 2003. A moeda perdeu a linha de R$ 1,70 e alguns agentes não descartam que as vendas seguem até R$ 1,65.

No câmbio externo, as variações também são expressivas, mas representam cerca de metade da oscilação de preço registrada por aqui.

O DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas, fechou a sexta-feira rondando a estabilidade, aos 75 pontos, mas acumula perda de 4,8% agora em outubro.

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Já a melhora de sentimento na zona do euro deu fôlego à moeda comum, que sobe mais de 5,8%, retomando a linha de US$ 1,41, preço não visto desde o começo de setembro.

No mercado de juros, os contratos encerraram a sexta-feira apontando para baixo na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A queda nos prêmios de risco foi vista como um ajuste técnico seguindo a alta de quinta-feira. A melhora externa ainda não justifica virada de mão nesse mercado. A ruptura pode sair de cena, mas não se pode pensar em forte crescimento na Europa e no mundo. A visão do Banco Central (BC) segue válida.

Eduardo Campos é repórter

 

 

 

 

Para dobrar receita, BRF vai investir R$ 2 bilhões



Empresa quer faturar R$ 50 bilhões em 2015

DA REUTERS

A Brasil Foods prevê que serão necessários R$ 2 bilhões em investimento para atingir o faturamento previsto em 2015, de R$ 50 bilhões, disse ontem o diretor financeiro da empresa, Leopoldo Saboya.
A meta de faturamento, que dobraria o volume atual da empresa, consta no plano estratégico de longo prazo (BRF 15), aprovado pela companhia e divulgado na quinta-feira com os resultados trimestrais.
Durante conferência com analistas para comentar os resultados, Saboya não quis entrar em detalhes sobre como os investimentos serão realizados. Disse apenas que podem estar relacionados a operações de processamento, compras de marcas e distribuição.
Na quinta, a BRF anunciou lucro líquido de R$ 365 milhões no terceiro trimestre, mais 73% sobre o registrado no mesmo período de 2010.

 

 

 

Sob pressão, companhias aéreas reajustam tarifas

AE - Agencia Estado

SÃO PAULO - As companhias aéreas, que iniciaram em setembro um processo de recuperação de margem de lucro detectado pelo acompanhamento de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretendem manter pelo menos até o fim do ano um gradual aumento de tarifas. Com isso, invertem o cenário de guerra tarifária que marcou 2010 e o primeiro semestre deste ano.

TAM e Gol confirmam que os reajustes atendem à necessidade de repassar aumentos de custos, como o de combustíveis. O querosene de aviação (QAV), que responde por um terço do total de custos das companhias, acumula alta de 26,23% de 1.º de janeiro a 1.º de outubro, de acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). A alta do dólar, que afeta não só o preço dos combustíveis, mas ainda os custos com manutenção de aeronaves, também prejudica os resultados.

Nesse cenário, a saída das empresas foi repassar para as passagens as perdas acumuladas, em uma tentativa de melhorar o desempenho no balanço do quarto trimestre. "O dólar afeta cerca de 60% a 70% dos custos das companhias. O impacto é imediato, porque estão sempre pagando leasing de aviões, combustíveis, reposição de peças", disse André Castellini, consultor da Bain & Company e especialista no setor aéreo. "A empresa pode acumular prejuízos só até certo ponto. As tarifas médias estavam abaixo dos custos. As companhias estavam perdendo dinheiro no mercado doméstico. Não era sustentável."

"As companhias vão aumentar (os preços) para que a margem seja mais folgada, porque hoje está muito justa", afirmou Nelson Riet, consultor de aviação. "As empresas, agora que estão começando a se acomodar nos seus respectivos nichos, pararam de competir umas com as outras. Então, elas vão aumentar o preço. Essa é a tendência."

A TAM declarou, em nota, que registrou nos últimos dois meses um aumento do yield (o valor médio pago por passageiro para voar um quilômetro) no mercado doméstico. Segundo a empresa, o resultado "está alinhado com o movimento de recomposição das margens e confirma a expectativa da companhia de aumento de pelo menos 5% do preço unitário doméstico no terceiro trimestre, na comparação com o período anterior".

O presidente da Gol, Constantino Júnior, confirma a necessidade de reajuste de tarifas. "Aumento de custo gera necessidade de mais receita", disse, citando a inflação, o dissídio pago aos trabalhadores da categoria e o aumento no preço do querosene de aviação. No entanto, ele diz que a empresa está focada em aumentar receitas complementares, como carga e a venda de bebidas e comida a bordo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

 

 

 

Researc

 

28/10/2011

Apostas contra Ibovespa crescem com dúvida sobre o 'bull market'

O acordo para conter a crise de dívida na Europa ajudou o principal índice acionário do Brasil a sair do “bear market” ontem

O Ibovespa subiu 3,7% ontem, aumentando para 22% a valorização desde agosto. O “bull market” é normalmente definido por um avanço de pelo menos 20%

São Paulo - Os investidores do mercado de ações mostram pouca confiança no “bull market” brasileiro.

As vendas a descoberto, ou “short selling”, estão hoje em um nível duas vezes maior do que o visto antes de o Ibovespa despencar em 2008 com os receios de que os cortes de juros vão acelerar ainda mais a inflação, ao mesmo tempo em que o desaquecimento da economia mundial ameaça a demanda por commodities. O acordo para conter a crise de dívida na Europa ajudou o principal índice acionário do país a sair do “bear market” ontem. A alta do dólar tornou as ações brasileiras mais baratas para os estrangeiros, que foram atraídos pelos múltiplos mais baixos em dois anos.

O Ibovespa ainda acumula uma baixa de 14 por cento no ano, depois que economistas cortaram as previsões para o crescimento da economia local. Essa queda se compara a uma alta de 2,1 por cento para o Standard & Poor’s 500 e de 1 por cento para o FTSE/JSE Africa All Share da África do Sul.

A disparada do “bull market” “não indica uma movimento sustentável de alta para o Brasil”, disse Komal Sri-Kumar, estrategista-chefe mundial do TWC Group Inc. em Los Angeles, que administra cerca de US$ 120 bilhões em ativos. “Há muito otimismo - em minha opinião, não totalmente justificado - quanto à solução para a crise de dívida da Europa. Eu não ficaria tão animado.”

O Ibovespa subiu 3,7 por cento ontem, aumentando para 22 por cento a valorização desde a mínima atingida em 8 de agosto. O “bull market” é normalmente definido por um avanço de pelo menos 20 por cento em relação à mínima do “bear market” anterior. O índice da bolsa paulista chegou a acumular uma queda de 33 por cento entre novembro de 2010 e o início de agosto. Com isso, o preço médio das ações que fazem parte do Ibovespa caiu para 7,9 vezes as estimativas para os lucros das empresas, o menor múltiplo desde março de 2009, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Avanço de commodities

As commodities subiram 5,9 por cento desde 8 de agosto, com o maior esforço das autoridades europeias para conter a crise de dívida do continente, segundo o índice GSCI, da Standard & Poor’s, que acompanha 24 matérias-primas. Essa valorização dá impulso à receita de empresas brasileiras do setor.

A bolsa da Rússia também entrou no “bull market” ontem, puxada pela disparada das commodities. O índice Micex, que engloba 30 ações, subiu 1,7 por cento, ampliando a valorização desde a mínima de 5 de outubro para 21 por cento.

O Brasil ficou fora da queda nas operações pessimistas para opções nos mercados emergentes. A relação entre opções de compra e opções de venda do ETF, ou exchange-traded fund, iShares MSCI Emerging Markets caiu 24 por cento desde 8 de agosto, para 1,22 por 1 em 25 de outubro, a mínima de 22 meses. Essa relação para o ETF iShares MSCI Brazil subiu 23 por cento no mesmo período, para 1,42 por 1.

O volume de aluguéis de ações no Brasil, um indicador de vendas a descoberto, subiu para US$ 35,2 bilhões no mês passado, ou 2,9 por cento do valor total do mercado acionário do País, segundo dados da BM&FBovespa SA e da Bloomberg. Essa relação chegou a bater no recorde de 3 por cento em agosto. Em 2008, o máximo atingido foi de 1,5 por cento, três meses antes do colapso do Lehman Brothers Holdings Inc., em setembro daquele ano.

 

 

 

BC pode ter trocado meta de inflação por crescimento, diz 'Economist'

 

Segundo revista, cortes sucessivos em taxas de juros podem estar sinalizando mudança de prioridade no mandato de órgão.

Os recentes e seguidos cortes na taxa de juros no Brasil podem estar sinalizando uma mudança nas prioridades do governo e a perda de independência do Banco Central, segundo a revista britânica The Economist.

Na edição que chegou às bancas nesta sexta-feira, a revista ressalta o papel que o Banco Central vinha tendo no combate à inflação no país, que "em boa parte do século passado era tão importante na vida dos brasileiros como o futebol".

A revista conta que o país conseguiu controlar a inflação a partir do Plano Real em 1994 e quando, em 1999, o Banco Central "ganhou independência operacional para fixar taxas de juros de acordo com a meta da inflação".

Mas os recentes cortes na taxa Selic (agora em 12%), que contrariam o curso normalmente adotado pelo banco, de manter as taxas altas para conter a inflação, causaram surpresa e lavaram a revista a questionar se o banco teria perdido sua independência e mudado de meta, trocando o combate à inflação pelo estímulo ao crescimento.

"Estaria o governo da presidente Dilma Rousseff, no poder desde janeiro, dando prioridade a outras metas, como sustentar o crescimento e prevenir a sobrevalorização da moeda, em vez de manter a inflação baixa?", diz a revista.

A Economist cita os argumentos do banco justificando o último corte nos juros, de que o salto da inflação é resultado do crescimento acelerado do último ano e da alta das tarifas de ônibus e do etanol.

Menciona também a versão do governo de que a desaceleração da economia mundial e a provável queda no preço das commodities deverá puxar a inflação para baixo, abrindo espaço para a queda nos juros.

"Os críticos do governo, porém, argumentam que ao começar a cortar (os juros) tão cedo e de forma tão agressiva, enquanto a inflação ainda está três pontos acima da meta, o banco mina sua credibilidade duramente conquistada. Como resultado, as expectativas de inflação para os anos seguintes têm aumentado".

A revista lembra que outros bancos centrais, como o Fed americano, têm mandato com o objetivo duplo de combater a inflação e também promover o crescimento.

"Mas quando o assunto é inflação, o Brasil ainda é como um 'alcoólatra em recuperação', que depende da ajuda do Banco Central para se manter na linha".

 

 

 

Visão de bancos sobre inadimplência é desafiada por provisões

Bradesco e Santander pedem que investidores não se preocupem com a inadimplência, mas ampliam as provisões para potenciais perdas com empréstimos

Guillermo Parra-Bernal e Aluísio Alves, da Reuters

SÃO PAULO - O Bradesco e o Santander Brasil estão pedindo que investidores não se preocupem com a recente disparada no nível de inadimplência de empréstimos brasileiros, mas o alto volume de provisões está passando uma mensagem diferente.

O Santander Brasil, maior concessor estrangeiro de empréstimos no Brasil, elevou suas provisões em 18 por cento no terceiro trimestre em relação ao período anterior, mesmo após os empréstimos vencidos permanecerem estáveis.

O presidente-executivo do banco, Marcial Portela, afirmou nesta quinta-feira que a inadimplência provavelmente permanecerá estável ao longo do restante do ano.

Da mesma forma, o Bradesco, terceiro maior banco do país, separou 1 bilhão de reais adicionais para potenciais perdas relacionadas a empréstimos, apesar de dizer a investidores que a qualidade de seus ativos não se deteriorará significativamente, de acordo com a medição do impacto da inadimplência em suas contas.

"O cenário é desafiador, mas acreditamos que podemos navegar por ele sem nenhuma perturbação séria", afirmou o vice-presidente financeiro do Bradesco, Domingos de Abreu, em teleconferência.

A decisão do Santander de rebaixar o valor de um total não revelado de empréstimos vencidos e o alto volume de provisões do Bradesco põe em questão a avaliação relativamente tranquila dos executivos sobre as futuras tendências do setor.

Um recente avanço no default de empréstimos motivou desvalorizações nas ações de bancos locais neste ano e alertas sobre a explosão do crédito, conforme a maior economia da América Latina desacelera e a inflação corrói o salário dos trabalhadores.

A maior inadimplência e novas pesquisas sobre imóveis assinalando crescentes despesas com juros indicam que os mutuários do país podem estar se aproximando de um limite de endividamento.

 

 

 

Chefe do EFSF descarta acordo rápido com China

 Autoridade disse que acordo da Grécia foi excepcional e não deve ser repetido em outros países

Reuters

PEQUIM - O diretor do fundo de resgate europeu disse nesta sexta-feira que não espera chegar a um acordo conclusivo com líderes chineses durante sua visita a Pequim, mas prevê que o país continuará comprando bônus emitidos pelo organismo.

Klaus Regling, presidente-executivo do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), disse ainda que o acordo de dívida com a Grécia foi um caso excepcional, e descartou necessidade de repeti-lo para outros países.

"Todos nós sabemos como a China tem uma necessidade particular de investir em superávits", disse ele em uma entrevista coletiva, referindo-se às reservas internacionais de US$ 3,2 trilhões do país, as maiores do mundo.

Regling fez os comentários apenas um dia depois de líderes da zona do euro chegarem a um acordo para conter a crise de dívida da região, e agora estão sob pressão para finalizar o plano para reduzir a dívida grega.

Regling deve reunir-se com autoridades do banco central e do Ministério das Finanças da China nesta sexta-feira.

 

 

 

Minério desaba e puxa preço do aço no mercado mundial

Por Ivo Ribeiro | De São Paulo

A patamar chegará os preços do aço no mercado internacional no início do próximo ano? Projeções de especialistas, em recentes relatórios, apontam US$ 550 a tonelada para a bobina a quente, um tipo de aço plano, laminado, que é um produto como referência do mercado siderúrgico.

Essa queda, atrelada ao desabamento do preço do minério de ferro no mercado spot chinês, já cotado na faixa de US$ 120 a tonelada, é tida como um freio para qualquer tentativa de aumento de preço para as siderúrgicas brasileiras neste ano. "Seria um tiro no pé", disse Carlos Loureiro, presidente do Inda, entidade que aglutina as empresas distribuidoras de aços plano no país.

A rede de distribuição desse tipo de aço responde por cerca de um terço das vendas internas e 83% desse mercado é movimentado pelas afiliadas do Inda. Entre essas empresas estão distribuidores independente e também coligadas das quatro grandes siderúrgicas do país - Usiminas, CSN, ArcelorMittal e o grupo Gerdau.

Loureiro explica que a diferença era de US$ 48 na quarta-feira entre preço trimestral (US$ 176 a toneladas) do minério no modelo de reajuste de contratos entre mineradoras e siderúrgicas e a cotação no mercado spot, de US$ 128. Isso resultaria em uma redução de US$ 77 no custo de produção da tonelada de aço (que tem consumo de 1,6 tonelada de minério).

Com isso, em vez de aproveitar a redução de custo na produção e ampliar margens de ganhos nas vendas, as siderúrgicas optam por manter participação de mercado, baixando os preços. Ninguém, com raras exceções e quando a situação é muito crítica, tem coragem de cortar produção.

A tonelada de bobina a quente da Ucrânia, por exemplo, já é negociada a US$ 620 a toneladas, e material chinês a US$ 635. Os preços vêm em queda contínua. "Há espaço para cair pelo menos 8% a 9%, com aço chinês indo a US$ 580", comentou o dirigente.

Loureiro, e outros distribuidores consultados, observam que qualquer aumento de preço no mercado doméstico até o fim do ano poderá aguçar o apetite dos importadores para trazer aço de fora. Vão aproveitar a queda de preço e o câmbio. O grande risco seria ver no primeiro trimestre de 2012, a partir de fevereiro, uma nova inundação de aço estrangeiro no mercado interno.

Outro fator que agrava essa situação é o cenário de incerteza decorrente dos problemas soberanos enfrentados por países da zona do euro na Europa, que tem a Grécia como o caso mais exemplar. Aliado a isso, há a desaceleração da China, maior produtor mundial de aço, que fez 56,7 milhões de toneladas em setembro. Hoje, o aço chinês já tem a maior presença no material plano que entra no Brasil.

De janeiro a setembro, o consumo aparente de aço [soma de vendas internas com importações] no mercado interno mostra uma retração da ordem de 13% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme dados divulgados esta semana pelo Inda.

Para a rede de distribuição, que fechou setembro com estoques de 2,7 meses de vendas [o correspondente a 1,05 milhão de toneladas], a meta é encerrar outubro e novembro em patamares de 2,5 a 2,6 meses [na faixa de 990 mil toneladas]. A estratégia visa entrar em 2012 com mais conforto. "A sabedoria será comprar melhor, ou seja, só aquilo que será possível vender", afirmou o empresário.

Em setembro, a rede comprou 330 mil toneladas das Usinas mais importação e vendeu 389 mil toneladas. Para outubro, a previsão era comprar menos - 317 mil -, mas as vendas também seriam um pouco menores.

 

 

 

Vale recebe aval para obra na Vitória-Minas

Por Do Rio

A Vale já recebeu o sinal verde do Ibama para a duplicação de 24 km da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Ao todo, a EFVM tem 905 km e exibe um dos melhores índices de produtividade do sistema. Além de transportar cerca de 40% da carga ferroviária do Brasil, com mais 135 milhões de toneladas por ano, a ferrovia opera o único trem de passageiros de longa distância com circulação diária no país para atender diariamente cerca de 3 mil pessoas entre Vitória, no Espírito Santo, e Belo Horizonte, em Minas Gerais.

A obra de duplicação do trecho na região de Santa Bárbara, Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo, em Minas Gerais, foi dividida em duas fases. A primeira, que prevê obras em quatro quilômetros, está orçada em R$ 80 milhões e já está em fase inicial, com prazo de conclusão de 30 meses. No início do ano que vem devem começar as obras de ampliação da capacidade dos outros 20 km.

"A EFVM é um importante corredor para grãos e produtos siderúrgicos e as obras de duplicação atenderão a crescente demanda de todas as cargas pelo modal ferroviário", diz o diretor de operações da Estrada de Ferro Vitória-Minas, Carlos Quartieri. "Para possibilitar o atendimento à mina de Brucutu e a outros projetos de aumento de capacidade de produção de minério na região foi ampliado, no ano passado, o pátio de Costa Lacerda, em Santa Bárbara."

Obras de outro trecho da Estrada de Ferro Vitória-Minas foram concluídas este ano. Trata-se da terceira linha da ferrovia no Vale do Aço entregue em agosto. Foram construídos 10 km de linha férrea dentro da própria área de operação da ferrovia entre os municípios de Santana do Paraíso e Ipatinga e uma nova estação ferroviária. A Vale projeta ampliar a capacidade da Estrada de Ferro Vitória-Minas em 20% até 2013. A capacidade da ferrovia passará de atuais 100 milhões para 120 milhões de toneladas/ano. (P.V.)

 

 

 

Afinal, a Europa reage

Celso Ming

Ainda que faltem pormenores essenciais e sejam muitas as pontas desamarradas, desta vez se viu determinação e consistência nas decisões dos chefes de Estado da área do euro.

Até há alguns dias, problemas até menos importantes do que os tratados inundavam de dúvidas os mercados, porque os dirigentes políticos estavam paralisados e preferiam empurrar a crise com a barriga. Agora se viu que a vontade política dentro do bloco pode ser acionada mesmo que espoquem questões mais graves, como a eventualidade da suspensão de pagamentos pelo governo da Itália.


Três entre as maiores incertezas foram, afinal, enfrentadas. O risco de pânico vinha subindo porque estava em jogo o patrimônio de quase uma centena de bancos enfileirados em dominó. Apesar do corte de 50% da dívida grega em carteiras privadas, providenciou-se o reforço de capital dos bancos. É uma novidade duplamente importante. Primeiro, porque o risco de colapso sistêmico foi reconhecido e identificado. (Há somente três meses, “rigorosos testes de estresse” o ignoravam). Em segundo lugar, as autoridades trataram de bloquear ameaças de naufrágios de grandes instituições financeiras. Não está claro de onde sairão os recursos que garantirão boa saúde aos bancos, mas já se viu que não serão tolerados novos casos Lehman Brothers. Ainda nesse capítulo, faltou dizer qual tratamento será dado aos títulos da Grécia em carteira de não bancos, como seguradoras e fundos de pensão e de investimento.

A segunda fonte de aflição e estresse nos mercados era a falta de poder de fogo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês). Conta com 440 bilhões de euros ainda não totalmente integralizados, dos quais só 250 bilhões de euros estão disponíveis para cobrir eventuais novas urgências. O presidente Nicolas Sarkozy avisa que o fundo será alavancado em até 1,3 trilhão de euros para que possa prestar socorro em outras oportunidades. Falta explicar como essa engenharia financeira será implementada e como os emergentes contribuirão para isso. Varejos desse tipo ficaram para ser definidos na reunião do Ecofin, entidade que reúne ministros de Finanças do euro.

A terceira grande incerteza, agora equacionada, é a questão da Grécia. Além do corte de 50% da dívida com os bancos, serão liberados 130 bilhões de euros já previstos para fechar as contas públicas. Uma pergunta ainda à procura de resposta está em saber até que ponto o precedente será evocado para facilitar a vida financeira também de Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Se os gregos se deram bem, por que não os outros?

Os principais focos de incêndio foram extintos, pelo menos por enquanto. Agora é preciso ver como esses pacotes serão desenrolados sem que apareçam diabos demais nos seus detalhes, onde costumam se esconder.

E que fique entendido: as falhas estruturais da área do euro estão todas aí. A principal foi a construção de uma união monetária sobre 17 sistemas fiscais tão diferentes entre si. Ainda não há conserto nem para essa distorção nem para as dela derivadas. A diferença é que hoje há melhor percepção dos problemas, os governos parecem mais bem mobilizados para impedir a expansão dos rombos. Nesta quinta-feira, o presidente do Conselho Europeu, o belga Herman von Humpuy, avisou que serão retomadas, em dezembro, as discussões sobre a revisão dos tratados da União Europeia. E este pode ser um bom recomeço

Os mercados responderam com euforia às decisões da área do euro, como indica o desempenho de algumas bolsas, mostrado no gráfico.

Pressupostos mantidos. A Ata do Copom divulgada nesta quinta mostra que o Banco Central continua apostando na deterioração da economia global, na queda ou na estabilização dos preços das commodities e na moderação do mercado de trabalho no Brasil. Pelo menos as duas primeiras hipóteses terão de ser revistas, caso as decisões tomadas pelos dirigentes do bloco do euro sejam consolidadas nas próximas semanas.

 

 

 

Solução na Europa complica consenso no DI

 

Autor(es): Fernando Travaglini

Valor Econômico - 28/10/2011

 

O mercado não viu grandes novidades na ata do Copom, divulgada ontem, que justificou o segundo corte de juros da era Alexandre Tombini à frente do Banco Central. As duas reduções de meio ponto percentual da Selic já promovidas devem ser seguidas por pelo menos mais 1 ponto de corte, de acordo com as apostas majoritárias no mercado de juros da BM&F, levando a taxa para 10,5% ao ano. Há uma chance de um terceiro corte, de 0,25 ponto percentual, em março, também precificada.

O texto do documento foi neutro, sem alterações na perspectiva da política monetária, e não confirmou algumas apostas feitas na quarta-feira de que o BC poderia sinalizar um ciclo mais longo de afrouxamento monetário. Ao contrário, o evento Europa, com uma solução apresentada na madrugada de ontem, trouxe euforia para os mercados globais, puxando para cima os juros por aqui. O contrato para julho do próximo ano subiu 0,06 ponto, para 10,53%, enquanto o de janeiro de 2013 avançou 0,05 ponto, para 10,38%.Também foram vistos alguns fundos montando posições em um ciclo mais limitado de corte de juros, mas desta vez no mercado de opções de juros. Nesse caso, o investidor paga um prêmio para apostar em um corte de meio ponto, já sabendo quanto vai ganhar, ou perder, sem ficar expostos a surpresas da curva futura.

Mas os movimentos estão longe de um consenso para a quantidade de cortes. O BC conseguiu trazer as expectativas para o seu cenário de "ajuste moderado" da taxa, mas começam a surgir algumas dúvidas na cabeça dos operadores. O mercado quer saber, por exemplo, o que significa a solução dos problemas da Europa para o cenário base do BC.

O BC tem se fiado em um novo modelo de previsão. Aliás, esta é a maior novidade da ata, a confirmação de que o cenário projetado com o modelo de equilíbrio geral estocástico de médio porte, conhecido como Samba, é central para o BC, deixando de ser "alternativo".

O modelo, segundo explica o BC, identifica "de modo mais abrangente os mecanismos de transmissão dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira". Daí vem a convicção de que os cortes "moderados" dos juros - leia-se 0,5 ponto percentual - são suficientes para a convergência da inflação à meta em um cenário de incerteza internacional.

A premissa é uma deterioração mais persistente, mas menos aguda do que em 2008/2009 - com um impacto equivalente a um quarto do que foi sentido naqueles anos pela economia brasileira. As consequências serão moderação da atividade doméstica e "certa estabilidade" na taxa de câmbio e nos preços de commodities internacionais, além, é claro, de uma taxa de inflação "em torno da meta", em 2012.

A grande questão é que o BC não atualizou seu cenário desde o fim de agosto. Ninguém sabe se "a atual deterioração" do cenário internacional, frase repetida da ata anterior, já levava em conta uma não ruptura do sistema bancário europeu e um calote organizado da Grécia. "Espero ouvir isso do BC", diz um operador de mercado.

Outra dúvida, que provocou a especulação na quarta-feira, é se o nível de desaceleração da atividade brasileira está dentro do previsto pelo BC, ou se a autoridade foi surpreendida. Como o mercado entende que o BC trabalha para a convergência da meta, mas com um olho também no crescimento, uma retração mais forte da atividade poderia levar o BC a flexibilizar mais a Selic.

Inês Filipa, economista da corretora Icap Brasil, acredita em um corte de um ponto, com duas reduções de 0,25% no início de 2012. A partir daí, o BC faria uma pausa para avaliar a conjuntura. "O cenário alternativo, que agora é o cenário central dele, leva em consideração coisas que ainda são muito incertas, como a moderação da atividade e o preço das commodities", diz.

Segundo ela, existe uma chance de recuperação da economia brasileira mais forte a partir de março, além de dúvidas sobre as commodities, com possível pressões de oferta. Ela também não vê espaço para o ajuste fiscal prometido pelo governo, de 3,1% do PIB em 2012, considerado "parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária" serão tomadas, segundo texto da ata. Ela acredita em superávit primário de 2,5% do PIB.

No câmbio, a forte queda de ontem, de 2,9%, para R$ 1,7090, teve relação direta com a desvalorização do dólar no mundo todo. Ao encostar em R$ 1,7, o mercado já começa a especular sobre quando o BC voltará ao mercado à vista. Há mais de um mês a autoridade não mostra as caras.

Alguns operadores acreditam que a autoridade pode oferecer liquidez para um fluxo que se aproxima, expectativa baseada na movimentação vista ontem no mercado de câmbio. Os bancos já acumulam um saldo de moeda no mercado à vista próximo a US$ 5 bilhões e novas entradas precisariam de uma ajuda do BC para absorver o excesso de divisa sem derrubar muito a cotação.

Resta saber se a autoridade atuará comprando no spot ou por meio da oferta de swap reverso. Ontem o BC fez consulta para rolar os swaps tradicionais (equivalente a venda de dólar no mercado futuro) oferecidos na época em que a moeda bateu R$ 1,96, em setembro. Mas a demanda deve ser na outra direção.

Os estrangeiros também voltaram, ainda de maneira tímida, a ampliar suas apostas contra o dólar no pregão da BM&F. A posição vendida já chegou a US$ 1,4 bilhão, sujeita ao IOF. Será que o retorno esperado por esses investidores compensa o imposto, ou eles acreditam que o governo irá zerar a alíquota assim que a medida provisória passar no Congresso?

Fernando Travaglini é repórter

 

 

 

 

Acordo firmado em clima de 'tudo ou nada'

 

Autor(es): Por Assis Moreira | De Bruxelas

Valor Econômico - 28/10/2011

 

"Fizemos uma oferta aos bancos e dissemos que só era aquela. Eles refletiram e aceitaram". Foi assim que a chanceler alemã Angela Merkel, visivelmente satisfeita, relatou como os bancos credores foram levados a aceitar "abandonar voluntariamente" € 100 bilhões, ou 50% da dívida da Grécia.

"Dissemos aos bancos que a solução era aceitar a anulação de 50% da dívida da Grécia ou o calote e aí a perda deles seria de 100%", afirmou por sua vez o presidente francês Nicolas Sarkozy. "Não chamamos os bancos para negociar e sim para informar sobre nossa posição."

Já passava das 4 horas da manhã em Bruxelas quando Merkel e Sarkozy deram entrevistas separadas, ao final de mais dez horas de negociações para completar as linhas gerais do pacote para conter o contágio da crise da eurozona. E, apesar das medidas serem mais modestas do que tinha sido prometido ao longo das semanas, o alívio era generalizado.

Desde as 18 horas, quando os chefes de Estado e de governo europeus chegaram ao Conselho Europeu, o sentimento generalizado tinha sido dominado pelo pessimismo. Um novo fracasso parecia anunciado, diante de divergências por todo lado.

Dez dos 27 países da UE, que não fazem parte da zona do euro, foram liberados da reunião por volta das 20h30. A Polônia, na presidência rotativa da UE, ainda tentou ficar para o jantar com os membros da zona euro, mas foi rechaçada.

Restou a seu primeiro-ministro, Donald Tusk, contar a cerca de 500 jornalistas que seu país deseja entrar o mais rápido possível no clube dos países que utilizam a moeda comum.

Enquanto isso, o chefe do governo italiano Silvio Berlusconi dava seu show. Primeiro, foi flagrado pela televisão italiana admirando indiscretamente a primeira-ministra da Dinamarca. Depois, mandou propagar o rumor de que Angela Merkel tinha pedido desculpas a ele pelas cobranças feitas publicamente para a Itália controlar suas despesas. No Twitter, o porta-voz de Merkel desmentiu, dizendo que não havia razões para se desculpar.

À medida que a noite passava, os rumores se espalhavam e que o representante dos bancos, o americano Charles Dallara, recusava abatimento da dívida grega acima de 40%. Por volta da meia-noite, sua assessoria divulgou em Washington que não havia acordo sobre nenhum ponto.

Os torpedos "pipocavam" entre jornalistas e assessores nas salas fechadas. Depois da 1 hora da manhã, veio a notícia de que Merkel e Sarkozy resolveram assumir a negociação com os bancos e convocaram o representante dos bancos no gabinete do presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy.

Merkel e Sarkozy contam o que arrancaram dos bancos. Mas Dallara conseguiu, em contrapartida, que a zona do euro mobilize € 30 bilhões para garantir o pagamento de outra parte da divida grega. Merkel explicou que €15 bilhões virão do dinheiro da privatização na Grécia.

Já sobre o aumento dos recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeiro (EFSF), Sarkozy usou a cifra em dólar, que é muito maior do que em euro, para surpresa dos jornalistas. "O aumento é de US$ 1,400 trilhão. Sim, de dólares. Eu falo em dólar porque é o dólar que é muito usado." Em euro, o montante é de € 1 trilhão, bem menos atraente para Sarkozy.

Se apareceu como vencedor sobre os bancos, o presidente francês visivelmente não tinha ainda engolido a rejeição de sua proposta para transformar o EFSF em banco e assim ter acesso a recursos ilimitados do BCE para socorrer os países em dificuldades. A Alemanha vetou, de forma que ninguém sabe como o fundo vai alcançar a cifra de € 1 trilhão. E sobretudo, a capacidade de endividamento do EFSF é garantido pelos Estados. Mas o EFSF pegará emprestado no mercado, mais os Estados vão dar garantias quando estão em situação precária.

Despeitado, durante toda a coletiva Sarkozy não cessou de repetir a declaração do próximo presidente do BCE, Mario Draghi, de que o banco continuará a comprar títulos da Itália de forma excepcional.

Já Merkel saboreava sua vitória. Perguntada sobre o papel do BCE no pacote, ela folheou o acordo, murmurou baixo até levantar a cabeça e dizer que o banco não estava envolvido no aumento do poder de fogo do EFSF.

Às 5h30, quando os jornalistas saíam do Conselho Europeu, as barreiras de segurança montadas pelos belgas já tinham desaparecido. E Charles Dallara, o representante dos bancos, avisava antes de partir de Bruxelas que há muitos detalhes a resolver no plano de anulação de 50% da dívida grega, e portanto, boa margem para os bancos não perderem tanto como os líderes contam.

Entre várias centenas de jornalistas, a questão era quando voltar a Bruxelas para novo pacote europeu. A Grécia continua na linha de fogo do mercado, que mantém as projeções de "default" no futuro. Também será preciso mais medidas para evitar realmente o contágio da crise para Itália e Espanha.